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  • Foto do escritorManuela Prudente

Perfeccionismo é o que impede o seu sucesso


Eu tinha 11 anos de idade quando a minha professora de literatura, Ms. Beckford, da Don Estridge High Tech Middle School, na Flórida, disse que eu sofreria um ataque cardíaco aos 17 se continuasse tão preocupada com as minhas notas do que jeito que eu estava. Eu recebia prêmio todo semestre pelo meu boletim impecável: 10 em tudo.


“A maior parte dos perfeccionistas cresce sendo louvada por suas conquistas e seu bom desempenho (notas, boas maneiras, regras cumpridas, trato com as pessoas, aparência, esportes). Em algum ponto do caminho eles adotaram esse sistema de crença perigoso e debilitante: ‘Eu sou o que realizo e quão bem eu realizo”, explica Brené Brown, em seu livro “A coragem de ser imperfeito”. Professora e pesquisadora da Universidade de Houston, Brené é aclamada por seus estudos sobre vulnerabilidade, coragem, vergonha e empatia.


Corta a cena para os meus 14 anos, de volta ao Rio de Janeiro, minha cidade natal. Em um semestre qualquer, recebo meu boletim na escola Our Lady of Mercy, em Botafogo: 7 em matemática ou física e 5 em linguagem de sinais, pois não tinha entendido que valia nota. Enquanto penso no meu futuro jogado fora, pois com essas notas jamais seria aceita por uma universidade de alto nível nos EUA, choro sem parar no banheiro da minha casa, tentando chamar atenção da minha mãe para pedir um colo. “Perfeccionismo não é autoaperfeiçoamento. Perfeccionismo é, em essência, tentar obter aprovação.”


Segundo a Sociedade Brasileira de Coaching, autoestima é quanto julgamos o nosso próprio valor. Como eu media o meu valor com base em quão bem-sucedida eu era no colégio, a minha autoestima não era minha…era dos meus professores, do meu boletim, dos meus pais, das minhas amigas, dos meninos que eu gostava, de todo mundo menos de mim.


Essa forma debilitante de viver me levou a escolher o caminho mais fácil na vida, que é nunca ser autêntica, mas sempre me encaixar no que eu acreditava que a “sociedade” queria. Na prática, isso fez com que eu escolhesse uma faculdade particular fácil de passar e uma carreira que “todo mundo” almejava, que era ser repórter de moda na Glamour, da Globo Condé Nast. Se você assistiu ao filme “O Diabo Veste Prada”, sabe do que eu estou falando em termos de me sentir poderosa e aceita por todos.

“O medo de falhar, de cometer erros, de não corresponder às expectativas dos outros e de ser criticado mantém o perfeccionista fora da arena da vida, onde a competição e os esforços saudáveis se desenrolam”, reforça Brené.


Aos 19 anos, me mudei para São Paulo onde terminei meus estudos e consegui o meu primeiro estágio em moda. Acho importante reforçar que ser repórter de moda é incrível, para quem REALMENTE quer, não para quem escolheu esse caminho por medo de se escolher, como foi o meu caso. Essa é a diferença entre a cultura da aprovação e a cultura da autoaceitação. O algoz não foi a profissão ou a faculdade que eu escolhi, mas o motivo pelo qual os escolhi: definitivamente não foi pensando em mim.


Quando vivemos a cultura da aprovação, buscamos a aceitação de pessoas que não se aceitam. O ciclo vicioso de acreditarmos que o nosso valor é medido pela nossa nota no Enem, vestibular e a profissão que escolhemos, nos deixa “míope” quanto ao verdadeiro caminho para o sucesso, que passa por entender quais são os nossos valores e senso de propósito na vida. Escolher uma faculdade ou profissão pensando em ganhar dinheiro e ser aceito é o caminho mais rápido para o esgotamento, pois qualquer área que você escolher vai gerar ansiedade e sentimento de vazio.


“O perfeccionismo não é a chave do sucesso. Na verdade, a pesquisa mostra que o perfeccionismo dificulta a conquista, pois está relacionado com depressão, ansiedade, compulsão e também com a paralisia da vida e perda de oportunidades.”


Em outras palavras, se quiser passar com notas brilhantes no Enem ou no vestibular, aumente consideravelmente suas chances pensando em qual vida autêntica você irá construir a partir do momento que passar na prova. Certamente você terá mais foco nos estudos e VONTADE de tirar notas altas.


Por eu NÃO ter feito nada disso, não só escolhi uma faculdade com a qual não me identificava, como vivi a síndrome do burnout após quatro anos atuando como jornalista em redação. Vale reforçar que escolhi o caminho da aprovação e não da realização pessoal. Se eu tivesse coragem, teria trabalhado com o mercado de desenvolvimento pessoal desde os 16 anos, quando fui chamada pelo meu coach, Ary Alonso, a trabalhar com ele. Sem paixão pela nossa carreira é impossível ser muito bem-sucedido financeira e emocionalmente. Não há energia o suficiente.


“Perfeccionismo não é se esforçar para a excelência. Perfeccionismo não tem a ver com conquistas saudáveis e crescimento. Perfeccionismo é um movimento defensivo. É a crença de que, se fizermos as coisas com perfeição e parecermos perfeitos, poderemos minimizar ou evitar a dor da culpa, do julgamento e da vergonha. Perfeccionismo é um escudo de 20 toneladas que carregamos conosco, achando que ele nos protegerá, quando, de fato, é aquilo que realmente nos impede de sermos vistos.”


Atividade prática: já parou para pensar nos assuntos que NATURALMENTE chamam sua atenção? O primeiro passo para construirmos uma vida autêntica é saber mais sobre aquilo que queremos saber mais, em vez de buscarmos assuntos que gostaríamos de gostar porque “dá mais dinheiro” ou “todo mundo gosta”. Novamente, é a cultura da aprovação vs. a cultura da autoaceitação. O mais irônico é que a cultura da autoaceitação oferece mais recompensa financeira, pois é muito mais provável que você não desista da sua profissão antes de colher os frutos monetários.


Pensando nisso, faça uma lista com os nomes dos filmes, podcasts, músicas, vídeos no Youtube, livros e contas no Instagram que você mais ama e busca revistar com certa frequência. Escreva no papel, pois o contato físico com a caneta te leva mais para o estado presente que digitar no teclado do computador ou do celular. Observe sua lista e encontre o denominador em comum entre todos os itens mencionados. Certamente, há um padrão de interesse da sua parte. Isto te ajudará no processo de compreender qual é a sua vocação e a carreira que mais se adequa à sua visão autêntica.


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